Política

Tutorial: Três Passos Para Favelizar Campina Grande.

   Acredito que todo político que se preze, não medirá seu sucesso por quantas escolas construiu ou quantos tributos mitigou. Mas sim, por quantas favelas foi o responsável.

   Assim sendo, segue um breve passo a passo de como desumanizar a moradia em Campina Grande – Paraíba:


   1. Limite a área onde as pessoas podem construír. 


    Campina Grande tem 591.7 km², uma área bem espaçosa por onde diversas famílias podem construir suas casas e ter uma boa vida. Mas felizmente, para aqueles que desejam o caos, somente quase 10% desse território é aproveitado para a construção de casas¹. 


    Mesmo que pareça besteira, se você limitar número de terrenos construíveis, um efeito dominó fascinante irá derrubar tudo de bom que a cidade pode um dia almejar ter. Veja bem, se houverem menos terrenos, o preço dos mesmos será sempre maior. E assim sendo, as famílias que, basta não serem ricas, se verão obrigadas a construir barracos, invadir terrenos e dar os primeiros passos para a criação de uma insalubre favela. 

   2. Dificulte a aquisição de residências para todos.



   Como fazer isso? O passo anterior já diz muito. Pois caso as pessoas vivam no ambiente caótico de uma favela, ainda mais pagando um pesado aluguel, não terão dinheiro e nem sequer tempo para se preocupar com a saúde espiritual de seus filhos. 
  
   Por conseguinte, estaremos muito próximos de temperar essa anarquia urbana com aquele pozinho de cocaína, pitadas de maconha e respingos bem generosos de álcool. Daqui em diante, já teremos feita a nossa favela! O próximo passo servirá somente para garantir que nada desse maligno plano dê errado. 

   3. Crie uma narrativa para que você consiga fazer sua favela, estando em paz. 


    Conforme disse o príncipe dos demônios: “Criar uma nova cultura consiste em transformar as verdades, para que se tornem elementos de ação”². Em outras palavras, você deve pegar verdades e distorcê-las para que o povo não questione suas medidas absurdas. Aliás, dentro de uma narrativa, nenhuma medida é absurda. Acha que Hitler fez o que fez sem antes criar toda uma história para justificar seu genocídio? Muita gente o apoiou, e ainda apoia. 

    Destarte, é certo que ninguém vai gostar de morar em uma favela ou pagar 200 mil reais em uma casa simples. Não sem uma boa historinha de ninar. Alegue que você quer preservar o meio ambiente, que você quer que as pessoas não vivam distantes do centro, diga que você quer dinamizar as relações sociais e deixar todo mundo juntinho, em um mix de amor. 
 
    Se as pessoas perceberem o que está acontecendo, vão se levantar. Vão estar presentes em todas as sessões do plano diretor da cidade, nas audiências públicas e vão estar clamando em uníssono que você pare de conduzir nossa cidade para a anarquia! Que trágico! Isso tem que ser impedido. 

   O QUE ESTÁ ACONTECENDO?



   Todas as medidas acima citadas estão sendo tomadas em Campina Grande. Nesse exato momento, o Plano Diretor de nossa cidade está sendo redigido. Esse plano definirá o sistema de organização urbana da cidade pelos próximos anos, e boa parte dos discursos para o fundamentar favorecem a teoria do adensamento populacional.

   Essa teoria afirma que devemos limitar as áreas de construção do nosso município, adensando e apertando as residências em torno do Centro: Elevando, portanto, o preço dos imóveis e dificultando a formação de novas famílias. 

   Por outro lado, temos a teoria da expansão urbana. A qual afirma que devemos permitir que os campinenses construam organicamente, com fiscalização, mas com liberdade e planejamento. Afinal, a nossa população não interromperá seu crescimento para se adequar a uma teoria de planejamento urbano. 

   Na última sessão de discussão sobre o plano diretor, no dia 17/06/2024, estive ao lado do Escritório de Advocacia Roberto Macedo e da Associação dos Pequenos Construtores de Campina Grande; onde defendemos com dados e argumentos a necessidade de planejarmos a expansão urbana de nossa cidade. 

   Afinal, estamos fadados a expandir. Seja planejadamante e com o apoio de políticas públicas, seja anarquicamente, dado a necessidade do povo de viver em algum lugar. Precisamos que sua voz se some a nossa, por isso, te convido a compartilhar esse artigo em seu Instagram, com seus amigos no Whatsapp ou de qualquer maneira que puder o fazer. 

   Campina merece imóveis mais baratos, alugéis mais brandos e uma estrutura mais bem planejada! Por outro lado, o oposto disso implica a favelização, a obscuridade e a desordem. Pois o povo, principalmente sua parcela menos favorecida, irá residir em algum lugar: Esteja isto ou não nos autos de nossos planejamentos. 

   E por fim, devo dizer que nesse momento precisamos de vozes para mudar nossa cidadade e impedir sua favelização! Este é o momento de exercer nossa já tão surrada democracia. No que eu lhes trago o questionamento do grande Ronald Reagan:

   “Se não nós, quem? Se não agora, quando?”

   Vamos compartilhar e fazer algo em relação a isso!




  Texto: Moriahn Gomes
  Instagram: moriahn_gomes






Referências:



1. https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/joao-pessoa-e-77-urbanizada-e-campina-grande-10-diz-ibge.ghtml

2. Antônio Gramsci no Livro “A Concepção Dialética da História”, página 14: “Nota IV. Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas “originais”; significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, “socializá-las” por assim dizer; transformá-las, portanto, em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidão de homens seja conduzida a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato “filosófico” bem mais importante e “original” do que a descoberta, por parte de um “gênio filosófico”, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais”.

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