Política

Os “casados sozinhos” e os “solteiros acompanhados”: uma visão sobre as atuais relações de afeto

 

Semana passada eu estava
conversando com um amigo e ele, preocupado, falou-me: “Erika, só falta a gente ter
sucesso na vida afetiva, não é mesmo?!”

A frase, por razões óbvias, impactou-me.
Por dois motivos, eu já me considerava uma pessoa com muito sucesso na vida
afetiva, embora solteira; o segundo motivo, ao refletir sobre as relações,
hodiernamente, considerei-me ainda mais feliz por não estar acompanhada. São muitos os casados que vivem “de
fachada”,
frequentemente (virou a regra) desrespeitam o(a) seu parceiro (a)
e têm vidas duplas!

O sucesso ou insucesso no amor,
portanto, não está necessariamente atrelado a ideia de ter alguém ao nosso
lado. Eu, enquanto fui casada ou nas relações que vivi, fui muito feliz e
aprendi muito, sou grata a cada pessoa com quem partilhei da vida, inclusive
aos que me feriram, o sofrimento é o
melhor dos professores, foi quando mais cresci!

Podemos estar solteiros e
preenchidos de paz e Deus. Buscando autoconhecimento e desfrutando daquela que
deve ser a melhor das companhias: a nossa! 
Afinal, se queremos uma boa pessoa, precisamos ter, no mínimo,
as virtudes de quem desejamos ter!

Por outro lado, não hesito em
dizer que a pior das solidões é aquela
quando estamos acompanhados
e a decisão de terminar uma relação passa pelo
respeito pelo outro e por nós mesmos, pela coragem de enxergar o fim e ter forças para
mudar rumos enquanto ainda exista
respeito. 

Tais difíceis escolhas evitam
situações extremamente comuns, de pessoas que conviveram juntas, dividiram
vidas e, por terem postergado o término, em razão de finanças ou filhos
(p.ex.), decidem separar-se quando já não há mais respeito, transformam-se em
verdadeiros inimigos.

Não digo, com isso, que trocar de
parceiros (as) deva ser como trocar de roupa: Jamais! Isso seria incentivar a promiscuidade, embora o troca-troca
tenha se tornado tão comum. Tampouco quero dizer que não devamos superar fases
ruins ou incentivar relacionamentos líquidos (Zigmunt Bauman), o amor implica,
também, em renúncia, perdão, doação, espera, resiliência. 

Contudo, há situações de vida que
impõem um fim, posso citar algumas:  desonestidade, traição, falta de amor e/ou
respeito. 

Note que quem trai o outro, trai
a si mesmo; quem é honesto jamais conseguiria viver ao lado de alguém
desonesto; quem desrespeita, humilha, apequena, destrata, não ama e, se não há
amor/respeito, não há relação. 

Portanto, aqueles que conseguem
viver por um propósito, no meu caso, há dois que dão sentido a minha vida (Viktor Frankl): EVOLUIR enquanto ser humano E SERVIR ao
próximo
; não conseguirão estar ao lado de quem só pense em si mesmo
(narcisistas), jamais caminharão com desonestos (diga-me com quem andas e eu te
direi quem tu és -provérbios 23:20-21), ímpios ou pessoas que vivam e se
alimentem do próprio discurso quando, em contrapartida, estejam em constante
incoerência pelas escolhas que fazem em seu dia a dia. (Billy Graham)

Não se trata de querer alguém
perfeito ou sermos perfeitos; mas, do dever de, pelo menos, lutarmos,
diariamente, por sermos seres humanos melhores e não cometermos erros que já
não cabem mais. A maturidade deve
acompanhar a idade
, muito embora eu não desconheça inúmeras crianças,
mimadas, em corpos de homens e mulheres, já adultos. Assim como os frutos,
ninguém amadurece porque desejamos, cada um tem o seu tempo. Para alguns, o
despertar ocorre quando ainda muito jovens, outros, envelhecem e não crescem.
Idade não diz muito. 

Na vida adulta, não há mais espaço para
mentiras, desonestidade, desamor, desrespeito – e não é algo que façamos pelo
outro, é por nós mesmos, como diria Madre Teresa de Calcutá – “Dê ao
mundo o melhor de você. Mas, isso pode não ser o bastante. Dê o melhor de você
assim mesmo. Veja que, no final das contas, é tudo entre VOCE e DEUS. Nunca foi
entre você e os outros
.”

Penso que podemos estar solteiros
e termos sucesso no amor, seja porque fomos felizes em todos os momentos
partilhados a dois; gratos por cada pessoa que conosco dividiu a vida e
convictos de termos tomado as decisões mais acertadas quando tivemos a coragem
de mudar de rumo, afastando aqueles que não agregavam ou não nos mereciam.

Assim como podemos estar casados
e felizes. Se existir amor, o tempo e a convivência funcionam como uma
renovação dos laços de afeto, pela superação de dificuldades, pelo respeito
mútuo, pela compreensão de que amar e dedicar-se a uma única pessoa é entender
suas várias faces, é saber que o sentimento não está atrelado a formas; que
cicatrizes e rugas embelezam, falam das lutas, contam histórias, desenhando-as
em nossos corpos. É a constante escolha de evoluirmos
pelo outro e para o outro
, isso é fascinante. 

Em conclusão, vejo inúmeros
solteiros e solteiras, que assim estão por opção e que, em verdade, são pessoas
virtuosas
e que aprenderam a viver em suas próprias companhias, a
desfrutar da solitude e que só sairiam de tal condição se encontrassem alguém
igualmente virtuoso: honesto, digno, capaz de amar-se e amar ao próximo,
respeitador, amoroso, batalhador, verdadeiro, fiel, amigo; não aquele que
humilhe ou apequene por não conseguir lidar com suas próprias limitações e
inseguro de si mesmo; não é sobre tolher, é sobre voar juntos. É sobre sorrir
com as vitórias, cativar o amor e o respeito; é sobre fazer com o outro o que
gostaríamos que fizessem conosco; dar as mãos. É sobre ter alguém que desperte
em nós o constante desejo de sermos melhores, para o mundo e para o outro. 

Amar, por outro lado, não se
confunde com posse ou dependência afetiva.

O amor verdadeiro não prende,
liberta; não tolhe, faz expandir; não diminui, eleva, soma, agrega. No amor não
há desrespeito, grosserias, violência. No amor há a presença do divino, a soma
que potencializa almas; a transcendência da carne, a criação!

Erika von Sohsten

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