Política

Daime ou vinho dos mortos: a abertura química da pineal e suas consequências

 

O daime ou vinho dos mortos, o nome vai depender da tradição religiosa ou do contexto cultural, é uma bebida enteogênica (psicodélica ou alucinógena) utilizada em rituais religiosos de algumas tradições brasileiras, sua origem remonta às tradições indígenas da região amazônica, onde é conhecida como ayahuasca.

Trata-se de uma mistura feita a partir da combinação da videira Banisteriopsis caapi, conhecida como Mariri ou Jagube, com as folhas do arbusto Psychotria viridis, conhecido como Chacrona. Os índios da região amazônica utilizam a bebida em rituais xamânicos há milhares de anos, considerando-a sagrada por suas propriedades visionárias e curativas.

A introdução da ayahuasca na religiosidade contemporânea está associada a diversas figuras, entre elas Raimundo Irineu Serra e José Gabriel da Costa. Ambos tiveram experiências com a ayahuasca e a incorporaram em seus sistemas de crenças.

Essas tradições religiosas atribuem à ayahuasca o poder de promover insights espirituais, cura física e mental, além de propiciar experiências de expansão da consciência. Note-se, contudo, que o uso está intimamente ligado a contextos rituais específicos, não sendo considerada uma “droga ilegal”, no Brasil, devido ao uso sacramental em algumas tradições religiosas, reconhecidas pelo nosso Estado.

Somos um país que protege a liberdade religiosa e como a bebida é utilizada como forma de liturgia, não poderia ser proibida. Há, inclusive, normas que regulamentam o uso, a exemplo da Lei 11.343/2006, que estabelece o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD).

Referida Lei é categórica ao reconhecer a possibilidade de uso, DESDE QUE utilizada dentro dos rituais das tradições religiosas reconhecidas.

Duas das que utilizam são o Santo Daime (RAIMUNDO IRINEU) e a União do Vegetal (JOSÉ GABRIEL). Um exemplo de prática espiritual é o Xamanismo, enraizada em muitas sociedades indígenas ao redor do mundo, mas que não é considerada religião por falta de estrutura dogmática centralizada.

O Xamanismo inclui uma cosmologia complexa que descreve a interconexão entre todos os seres vivos, a natureza e o mundo espiritual. Essas visões de mundo frequentemente incluem crenças sobre divindades, espíritos animais, ancestrais e forças naturais.

Partindo de tais considerações, o que se tem observado, e com bastante frequência, infelizmente, é o uso comercial da ayahuasca.; de um lado, um grupo de pessoas que viram, nos rituais, uma forma de lucro (as sessões variam de R$ 60,00 a R$ 300,00 reais e comportam, normalmente, um número razoável de participantes. Se consideramos um grupo pequeno, de 10, no valor da R$ 300,00 – temos R$ 3.000,00 como faturamento).

Do outro lado, aqueles que buscam a bebida (“o chamado”) não como parte de um processo espiritual/religioso, mas, tão somente, pelos efeitos psicotrópicos, para sentir “a força”, desrespeitando o necessário processo decorrente de uma prática religiosa autêntica, resultante de longa e anterior busca de autoconhecimento, ligado à espiritualidade.

As consequências poderão ser: severos riscos à saúde física (náuseas, vômitos, diarreia, aumento da pressão arterial e taquicardia. Em doses elevadas, pode levar a complicações mais graves, como arritmias cardíacas, convulsões e até mesmo a morte) e mental (desencadear reações psicóticas agudas, ansiedade extrema, paranoia e até mesmo experiências de pânico – “bad trip”).

Pessoas com histórico de doenças como esquizofrenia ou transtorno bipolar, correm um risco particularmente elevado.

Sem falar que a falta de suporte emocional e psicológico, com líderes experientes, fará com que os participantes tenham sérias dificuldades em integrar as experiências psicodélicas e lidar com os insights e emoções que surgem durante o uso da substância.

Veja que se trata de uma substância com compostos psicoativos capazes de induzir a estados alterados de consciência, percepção e experiências espirituais ou transcendentais. O termo “enteogênico” deriva do grego e significa “manifestação do divino dentro”.

A presente reflexão é um alerta, não para combater ou atacar as pessoas que fazem o uso, eu respeito todas as formas de crença, religião e suas liturgias; contudo, é imprescindível que exista uma maior cautela diante da forte disseminação das sessões, existindo até aqueles que introduziram a bebida na sua rotina, utilizando todos os meses e sem que estejam inseridos em qualquer prática religiosa, nem tampouco com maturidade psicológica e equilíbrio espirituais – o que poderá resultar em danos de ordem física e psíquica incalculáveis.

Portanto, se você não faz parte de uma tribo indígena, não pratica o xamanismo, se sua religião não é o Santo Daime e nem a União Vegetal; se nunca fez terapia e não está num processo de enfrentamento de suas sombras (Carl Jung) e busca de autoconhecimento, se não foi a um cardiologista para conhecer a sua condição física e, portanto, afastar a possibilidade de que tenha problemas cardíacos, se está grávida ou amamentando, se tem doenças mentais, como esquizofrenia, transtorno bipolar, psicose, depressão grave ou ansiedade extrema, hipertensão arterial não controlada, epilepsia, distúrbios de coagulação sanguínea ou outras condições médicas graves, se usa antidepressivos, medicamentos para pressão arterial, antipsicóticos ou tem menos de 18 anos, NÃO USE !!!

Eis a minha humilde opinião, deixando registrado, desde já, que não sou médica, não sou bioquímica e/ou farmacêutica, o enfoque dado à reflexão tomou por base conhecimentos de ordem jurídica e filosófica.

Eu acho que são riscos consideráveis, não é mesmo?! Fica o alerta e o desejo de que tenhamos mais zelo com nossa espiritualidade, saúde física, emocional e mental, cientes que o processo de autoconhecimento é lento, doloroso e exige que tenhamos força, disciplina, determinação, paciência e coragem, não deve ser alcançado pelo uso do daime como espécie de “anabolizante espiritual”.

Assim como os hormônios trazem rápido resultado, belos corpos, fazem-no gerando desequilíbrio físico e em detrimento da saúde de nossos órgãos. Assim também o vinho dos mortos: a substância promove rápida abertura do terceiro olho (glândula pineal), mas, será que a maioria dos usuários têm suporte mental, emocional e espiritual para entender e processar os estados alterados de consciência e sua expansão? E se existirem os problemas acima relatados, será que seus corpos (Físico, Etérico, Astral, Mental Inferior, Mental Superior, Búdico e Átmico) suportarão o processo?!

Erika Rocha von Sohsten

Pré-candidata ao cargo de vereadora de João Pessoa.

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