Política

“QUANDO EDUARDO CUNHA FAZ FALTA, ALGO ESTÁ MUITO ERRADO”: Os Ecos da Paulista e o Julgamento dos dias 8 e 9.

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As imagens da Avenida Paulista ontem à tarde trouxeram à tona um sentimento que insiste em dividir os brasileiros: a solidariedade. Mas não aquela que nos une em tragédias, ou nos move a construir um país melhor. Foi a solidariedade aos acusados do 8 de janeiro, os mesmos que agora serão julgados pelo STF por incitação e associação criminosa. Estavam lá, segundo os autos, em acampamentos golpistas às portas dos quartéis, pedindo intervenção, derrubada de instituições, ruptura com o Estado Democrático de Direito.

E ali, em plena Paulista, vimos cartazes, orações, camisetas da Seleção. Alguns diriam que foi um ato de fé, outros, de afronta. Eu diria: foi um retrato do Brasil de sempre. O país onde as narrativas mudam ao sabor do poder.

“Se eu pudesse e se o meu dinheiro desse”, como cantou o imortal Ataulfo Alves, talvez eu tivesse ido. Não necessariamente para apoiar, mas para ver de perto esse curioso fenômeno nacional em que os derrotados se transformam em mártires — pelo menos aos olhos de seus pares.

O julgamento no STF começa esta semana. Dezessete réus. Pode parecer pouco diante do caos que vimos naqueles dias. Mas talvez seja o suficiente para um recado. O que me intriga, porém, é imaginar como essa história será contada no futuro. O que vai parar nos livros? O que dirão os netos? Que foi tentativa de golpe ou simples manifestação legítima, reprimida pelo “sistema”?

Os vencedores escrevem a história. Já vimos esse filme.

Lembram das Diretas Já? Milhões nas ruas, o povo em peso pedindo o óbvio: o direito de votar. E o que houve? Nada. A emenda de Dante de Oliveira foi derrotada. Tancredo Neves, escolhido indiretamente, virou símbolo da transição democrática. Mas morreu antes de assumir. Quem pegou a faixa foi José Sarney, o mesmo que até pouco antes era um dos pilares do regime militar. Foi ele, dizem, quem “consolidou a democracia”. Ironia? Cinismo? Apenas mais um capítulo dessa nossa história torta.

E Sarney ainda virou “imortal”, membro da ABL, com seus “Marimbondos de Fogo” — que poucos leram, diga-se. Mas literatura também é poder, e poder é narrativa.

Agora, volta-se a falar em anistia. Será que passa? E se passar, será cumprida? O Judiciário deixará? Ou veremos mais um impasse em que ninguém vence, e todos saem feridos?

Talvez a última vez que o povo realmente prevaleceu tenha sido no impeachment de Dilma Rousseff. Não porque foi justo, mas porque foi feito. E foi feito por Eduardo Cunha, o vilão da vez, hoje quase um personagem folclórico, um anti-herói. A história adora essas contradições.

Curioso ver agora os bolsonaristas — tão exigentes e impolutos — elogiarem as investidas jurídicas de Sergio Moro, o mesmo juiz que ajudou a enterrar a esquerda e hoje é persona non grata no núcleo duro do bolsonarismo.

Os caminhos do poder raramente são retos. E, pasmem, por mais absurdo que pareça, há quem diga: Eduardo Cunha faz falta.

O que parece claro é que continuamos vivendo um eterno embate de versões, onde o certo e o errado mudam de lado conforme a maré. No fim, talvez a verdadeira luta seja por quem vai escrever o próximo capítulo da história.

Texto Chico Ribeiro
Blog Sem ARRUDEIO

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