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IMAGEM ICÔNICA | A MISTERIOSA FOTO DE LAMPIÃO COM O JORNAL O GLOBO EM PLENO SERTÃO

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Não se sabe ao certo o local exato onde foi tirada a imagem acima — o cangaceiro não tinha endereço fixo, tampouco agenda pública. Mas, cruzando pistas visuais, registros históricos e relatos de época, estudiosos apontam: o cenário da fotografia é o estado de Sergipe, possivelmente nas imediações do Rio São Francisco, por volta de meados de 1936.

O retratado é ninguém menos que Virgulino Ferreira da Silva (1897–1938), mais conhecido como Lampião, o famigerado Rei do Cangaço. A imagem, considerada uma das mais icônicas do ciclo do cangaço, mostra muito mais do que o rosto impassível do líder cangaceiro. Ela esconde, ou melhor, revela detalhes intrigantes sobre aquele momento de sua vida e de sua atuação no sertão nordestino.

OS DETALHES QUE FALAM

As folhas verdes nos galhos ao fundo indicam que a estação de seca ainda não havia chegado. O traje de couro trabalhado, repleto de detalhes metálicos, é típico do período em que Lampião e seu bando estavam em ascensão, bem equipados e com recursos — fruto de saques, alianças com elites locais e até possíveis acordos com autoridades.

Mas o grande mistério da foto é o jornal. Na mão direita de Lampião, repousa um exemplar do O GLOBO. Como aquele jornal carioca, símbolo da imprensa urbana e moderna, foi parar nas mãos de um cangaceiro no sertão do Nordeste?

O JORNAL NO SERTÃO: ACASO OU MENSAGEM?

A presença do jornal levanta diversas hipóteses. Há quem diga que era uma forma de Lampião mostrar que estava atento ao que acontecia no país, ainda que sua realidade fosse o mundo agreste e violento dos sertões. Outros acreditam que o exemplar foi incluído de propósito, como uma mensagem — um gesto calculado para demonstrar que o Rei do Cangaço não era um ignorante isolado, mas alguém que compreendia o peso da comunicação e da opinião pública.

Também não se pode descartar o simbolismo da imagem. O jornal pode ter sido usado como um acessório fotográfico, uma forma de mostrar poder e modernidade. Ou mesmo tenha sido entregue por alguém de fora, um viajante, um aliado, ou até um emissário interessado em manter boas relações com o bando de Lampião.

FOTOGRAFIA COMO ARTE E PROPAGANDA

Vale lembrar que Lampião não rejeitava a fama — pelo contrário. Existem vários registros fotográficos do cangaceiro e de seu grupo, muitas vezes feitos por fotógrafos profissionais que percorriam o sertão. Os retratos eram até vendidos em feiras e mercados. Ele sabia do impacto que uma imagem podia causar.

A fotografia, então, pode ter sido cuidadosamente preparada. O olhar direto para a câmera, a arma apoiada com naturalidade, o jornal estrategicamente posicionado. Cada elemento contribui para a construção de uma imagem que vai além do bandido: ali, Lampião se apresenta como uma figura histórica, um personagem político, um homem que desafiava tanto as leis quanto as narrativas.

O LEGADO DE UMA IMAGEM

Décadas depois de sua morte — emboscado e decapitado em 1938 junto com Maria Bonita e parte de seu grupo — a imagem ainda intriga, fascina e provoca debates. Quem era realmente Lampião? Um vilão sanguinário ou um símbolo de resistência dos sertanejos contra um Estado ausente e uma elite opressora?

A fotografia com o jornal O GLOBO talvez nunca revele todos os seus segredos. Mas ela permanece viva, como um retrato congelado de um tempo em que o sertão tinha seus próprios reis — e em que uma imagem, como esta, podia valer mais do que mil palavras.




Crédito da imagem: Arquivo histórico / domínio público
Publicado Blog Sem ARRUDEIO

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